Conhece-se pouco da história da Irmandade da Misericórdia de Viseu nos tempos iniciais, no primeiro quartel do séc. XVI. Terá sido, segundo alguns historiadores, uma das primeiras misericórdias a ser instituídas no país.

Embora não se sabendo ao certo a data da fundação, aponta-se como mais provável o ano de 1516, por ser esta a data da outorga do primeiro compromisso conferido por El-Rei D. Manuel. Neste documento fez inscrever o Venturoso a recomendação:Mandamos que este Compromisso se cumpra e se guarde pela Misericórdia da Cidade de Viseu assim e tão inteiramente como se nele contem". Este Compromisso, protegido por capa de pergaminho, guarda-se no Museu da Misericórdia, como precioso objeto do seu património documental.

Os Compromissos da Irmandade têm a função de “Estatutos” e aí se descreve a missão da Misericórdias e a regulamentação necessária para o seu funcionamento. Ao compromisso inicial, seguiram-se outros, em 1624 e em 1898, que foram depois reformulados ao longo do tempo. A adequação às mudanças de cada época, quer políticas quer socioeconómicas, obrigou a ajustes posteriores,

Com efeito, novo Compromisso viria a ser confirmado em 1624, por Filipe III. Em 1898, a Mesa Administrativa e o Governo Civil, como então se impunha legalmente, aprovam renovado Compromisso. Já após a implantação da República, sente-se a necessidade de novos ajustes, que foram aprovados em 1911 e, posteriormente, em 1960.

Em 1980, o texto regulamentar volta a ser revisto, agora moldado pelo Compromisso redigido pela União das Misericórdias Portuguesas. No ano de 1983, D. José Pedro, então Bispo de Viseu., confirma canonicamente as linhas orientadoras e aprova o novo Compromisso, que vigora na atualidade.

Desde o início do séc. XVI, é deveras fecunda e notável a história desta pentassecular instituição, indissociavelmente ligada à história da cidade de Viseu. Numa breve descrição do seu rico historial, Alberto Correia salienta algumas das fases mais significativas, desde os primórdios até ao séc. XX.

“Foi apenas em 1520 que se levantou, no Soar, topónimo então relativamente abrangente, a primeira Casa, com nome de capela, que iria servir o ministério da Misericórdia logo em 1522. Não respondeu com eficácia ao necessário desempenho e, de acordo com o dizer de Botelho Pereira nos seus Diálogos escritos em 1635, o Bispo D. Gonçalo Pinheiro dá início, em 1567, a uma nova "Casa da Santa Misericórdia", que D. Jorge de Ataíde, ao suceder-lhe, muda, como diz este autor, para lugar melhor acomodado a casa tão formosa e cheia de piedade. O lugar escolhido para esta casa foi provavelmente o sítio onde hoje está implantada a Igreja da Misericórdia, sítio percorrido pelo traçado da muralha afonsina de que fez, para o efeito, destruir um troço, ato mais tarde censurado pelos seus cónegos.

 

Breve Historia

 

Atos de culto, ação beneficente, reuniões da Mesa na Casa do Despacho, depressa encontraram dificuldades e é então que o Provedor Bernardo de Nápoles Telo de Menezes propõe uma nova construção, no sítio da anterior, que irá iniciar-se em 1775. O magnífico edifício de estilo rocaille é aquele que ainda hoje vemos fronteiro à Catedral, um fantástico traçado que a luz faz vibrar nesse permanente jogo feito entre a cal e o granito daquele singular frontispício, e que mais tarde foi modificado em seu interior até ganhar, à volta de 1842, o ar austero no neo-classicismo que hoje ainda nos oferece. (…)

Ao tempo, a Misericórdia administrava o Hospital das Chagas que D. Jerónimo Bravo e sua mulher haviam construído em 1565 e ao qual deixavam rendas próprias. Ampliado mais tarde, por pouco tempo responde às necessidades, o que leva a Misericórdia a aprovar a construção do que se chamou o Hospital Novo ou Hospital da Misericórdia construído não muito longe e que viria a receber os doentes transferidos daquele em 1842. O velho edifício manteve-se devoluto até 1875, tendo depois sido vendido ao Governo que ali estabelece o Hospital da Guarnição Militar de Viseu e nele instala depois o Comando da Polícia de Segurança Pública.

O Hospital da Misericórdia, que em 1963 se designa como Hospital de S. Teotónio, o velho prior da Sé de Viseu agora tornado patrono, encerra a sua missão, irá em breve cumprir, nobremente, outro destino. (…) Respondendo a urgentes necessidades do tempo, à volta de meados do séc. XIX, a Misericórdia decide fundar um Asilo para inválidos. (…) E em 1896, com a presença da Rainha D. Amélia lançava a primeira pedra do Asilo que ficava a designar-se Anjo da Caridade e Viscondessa S. Caetano e se constitui hoje, inteiramente renovado, uma das singulares valências da Santa Casa da Misericórdia de Viseu - O Lar da Viscondessa de S. Caetano.” (1)

Em pleno século XXI, a Misericórdia de Viseu continua a dar prioridade às suas funções sociais, procurando assim responder à principal missão da sua existência, seja na ajuda aos mais carenciados, seja no apoio à terceira idade.

Grande importância assume igualmente o apoio à infância, visível na criação de novas valências. Atualmente, esse apoio materializa-se sobretudo nos Jardins de Infância de Nossa Senhora de Fátima e de S. Sebastião (e também no de Teivas, este em articulação com o Município local), tendo em vista dar novas respostas educacionais e proporcionar o desenvolvimento integral das crianças. No âmbito de cuidados essenciais ou proteção em situações de risco para a criança, a Misericórdia de Viseu desenvolve também, em articulação com a Segurança Social, uma relevante ação no CAT, Centro de Acolhimento Temporário.

Com o propósito de alargar a sua ação social, a Santa Casa ampliou e requalificou espaços do seu património edificado, abrindo-os às valências Berçário, Creche e Atividades de Tempos Livres (ATL), tendo como patrono S. Teotónio. A valência da Creche Familiar vai também ao encontro de agregados familiares que procuram resposta mais adequada às suas necessidades.

A par dos contínuos investimentos no setor social, numa atitude de inclusão e combate à pobreza, sobretudo urbana, a Misericórdia de Viseu desenvolveu o projeto exemplar “Uma mão por um sorriso”. O “Refeitório social” contém uma dimensão alargada, sendo complementado com serviço de balneário e lavandaria, banco de roupas, apoio psicológico, encaminhamento social e profissional e apoio domiciliário.

Ainda no sector da terceira idade, para além do Lar da Viscondessa de S. Caetano e da mais recente Residência Rainha D. Leonor (modelar unidade de acolhimento inaugurada em 2002), a Misericórdia presta diariamente apoio domiciliário através dos Centros de Dia de Santa Maria, junto à sede da instituição, e do Centro de Dia na freguesia de Teivas.

Consciente da valia arquitetónica e artística do seu património, a Irmandade obriga-se a cuidar da preservação e requalificação do seu património. Uma forma conjugada e sustentada de o conseguir é renovar a sua funcionalidade, conferindo-lhe novas funções sociais ou culturais. Assim aconteceu com o Tesouro da Misericórdia, cuja abertura na ala norte do edifício da Igreja da Misericórdia, em 2007, e ampliação na ala sul, em 2011, veio dignificar e divulgar o património cultural e artístico, patente hoje num qualificado espaço museológico, reconhecido publicamente. No âmbito cultural, a Misericórdia promove várias ações abertas ao público (conferências, exposições, concertos, etc.) e colabora assiduamente com instituições da cidade. A preservação do património documental é feita através do Arquivo Histórico, no presente a ser alvo de tratamento sistemático e informático, com vista a torna-lo acessível.

O Dia da Misericórdia celebra-se anualmente no penúltimo domingo de Novembro, data oportuna para lembrar e homenagear Irmãos e Benfeitores, bem como todos aqueles a quem a Misericórdia deve a continuação da sua missão, no cumprimento sempre renovado das 14 obras de Misericórdia.  

Todas estas funções são orientadas por uma estrutura hierárquica de governança interna, assente nos órgãos sociais, cuja eleição é renovada de três em três anos. A Mesa Administrativa é presidida pelo Provedor, cargo atualmente desempenhado pelo Dr. Adelino Costa. Os membros eleitos acompanham generosamente as tarefas e os desígnios da Irmandade, para, juntamente com todos os colaboradores, nas diversas valências, prestarem um serviço de entrega e dedicação, adaptado aos novos tempos. Mas sempre, hoje como ontem, obedecendo ao lema da irmandade: “ao serviço de quem precisa”.

 

Bibliografia:

Alberto Correia, in Boletim Informativo da Santa Casa da Misericórdia de Viseu, nº 1, Janeiro-Março, 2005 (adap.)

ALMEIDA, Reinaldo Cardoso - Santa Casa da Misericórdia de Viseu. Subsídios para a sua história, SCMV, Viseu, 1985.

ALVES, Alexandre – Igreja da Misericórdia de Viseu, SCMV, 1988.

ARAGÃO, Maximiano de – Viseu. Instituições Sociais, Edição Seara Nova, Lisboa, 1936.

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